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26 de Abril de 2024
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    Emprego ressocializa presas do DF: “melhor coisa do mundo é trabalhar!”

    “A vantagem do semiaberto é que posso sair daquele ambiente”, diz a detenta Liliane, que trabalha na Defensoria Pública do DF como auxiliar de limpeza durante o dia e à noite dorme na Penitenciária Feminina da Colmeia. Ela é uma das sete mulheres empregadas na instituição por meio do convênio com a Funap (Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso), que dá uma nova oportunidade a pessoas condenadas por crimes no passado. “A lição que aprendi no período em que fiquei no fechado é que a melhor coisa do mundo é trabalhar”, diz outra reeducanda.

    De acordo com o responsável por estas contratações na Defensoria, Everaldo Araújo, o projeto funciona desde 2006, quando a Defensoria ainda se chamava Centro de Assistência Judiciária. “Temos 25 vagas e contratamos de acordo com a necessidade de trabalho. Não temos um número específico de contratação para o sexo feminino e masculino. Aqui, as mulheres trabalham na limpeza e na copa. Seis estão no regime domiciliar e uma no semiaberto”, diz.

    Luciane Valentim da Cosa, 41, trabalha há mais de um ano na Defensoria. Ela foi presa por tráfico de drogas e sentenciada a cinco anos e seis meses de detenção. Em 10 meses de regime fechado, ganhou o direito de ir para o semiaberto. “Faz quatro meses que estou em prisão domiciliar [passa o dia trabalhando e de noite vai para albergue ou para a própria casa]. Sinceramente, a lição que aprendi no período em que fiquei no fechado é que a melhor coisa do mundo é trabalhar! Me arrependi do que fiz, não volto nunca mais para o tráfico. Chorei todos os dias em que estive na cadeia. Lá é terrível!”, lembra a auxiliar de limpeza.

    Ela conta que as próprias detentas pegam as escovas de dente e lixam até ficarem pontudas para furar as pessoas. “Vi mulheres sendo furadas e espancadas. Uma morreu desse jeito e fiquei tão nervosa que fui parar no hospital com pressão alta”, recorda Costa.

    A história de Luciane se complica ainda mais, pois vive o drama de ter um filho no mundo das drogas. “Com a minha prisão perdi muitas coisas. Meu filho se envolveu com drogas e não consigo tirar ele dessa”, conta ela que tem duas filhas – uma de 27 e outra de 24 anos – e dois meninos, um com 21 anos e o envolvido com drogas, de 17. “O pior dia pra mim era o da visita: minha filha ia me ver e, quando ela ia embora, parecia que tinha levado um pedaço de mim” lembra.

    Quem também trabalha na Defensoria, só que em regime semiaberto, é Liliane Carla da Silva, de 27 anos. Ela também foi presa por tráfico de drogas e tem que cumprir cinco anos e nove meses de prisão. Está há quatro meses na Defensoria. “Fui mãe aos 15 anos e ainda precisava ajudar a minha mãe a cuidar dos outros oito filhos dela. Por necessidade, fiz besteira. Hoje, estou no semiaberto. Regime fechado é horrível! A vantagem do semiaberto é que posso sair daquele ambiente, ruim é ter que voltar para dormir. Depois de três anos e cinco meses que consegui a liberação para sair para trabalhar”, relata Silva.

    Liliane relembra que a piores coisas que presenciou na cadeia foram as mortes de algumas presas. “Existem pessoas que não suportam a prisão. Presenciei seis suicídios, todas se enforcaram. Muitas se mutilam para ver se conseguem sair de lá, não aguentam a pressão. A realidade é cruel, somos espancadas e xingadas”.

    Os empregados do projeto recebem uma bolsa equivalente a um salário mínimo. A cada 12 meses, são avaliados pelos chefes imediatos e podem subir aos níveis 2 e 3 e receber um pouco mais. “Até hoje nós não tivemos nenhuma reclamação delas”, explica Everaldo.

    Progressão de pena

    Segundo o coordenador do Núcleo de Execução Penal da Defensoria, Reinaldo Rossano, a progressão de pena varia. “Depende se o crime é hediondo ou se é um crime comum. Quando ele é hediondo tem que cumprir dois quintos da pena, se ela for primária, ou três quintos, se for reincidente. Se for um crime comum, tem que cumprir um terço”, resume Rossano.

    Crime hediondo – de extrema gravidade, sem direito a fiança. Por exemplo, homicídio e estupro. Já o não hediondo são os de natureza leve – roubo e falsificação de documentos.

    O defensor Reinaldo acrescenta que o Núcleo de Execução Penal possui um controle de todas as pessoas que vão progredir de pena. “Temos um sistema de agendamento de benefícios, progressão, livramento condicional ou saída temporária. Também realizamos o atendimento penitenciário para as pessoas que não sabem sobre a sua situação, estas visitas são feitas todas as sextas-feiras”.

    Priscila Leite

    da Assessoria de Comunicação

    Esquerda: Luciane Cosa

    Direita: Liliane Silva

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